O Regime Militar, iniciado em 1964, encontrou a dívida interna praticamente "zerada". O que pode parecer um sinal de equilíbrio financeiro poderia refletir, na verdade, uma impossibilidade prática de endividamento no mercado da época.
Na situação atual também poderíamos, numa interpretação otimista, constatar que nunca o Tesouro Nacional foi tão merecedor de crédito. A interpretação pessimista seria que podemos estar muito perto de um colapso.
Retornando a nosso breve (e incompleto) histórico da dívida devemos lembrar que os mecanismos de correção monetária introduzidos e a volta do crédito externo permitiram ao Governo a recorrer a emissão de títulos internos e a empréstimos externos governamentais para equilibrar as contas públicas.
Foi iniciado um ciclo de endividamento público que elevou consideravelmente o valor da dívida pública que superou a dívida federal do pós guerra (7% do PIB). A dívida interna, no entanto, foi mantido abaixo de 8% do PIB até 1979.
Como nessa época de "milagre econômico", comandada em grande parte pelo Ministro Delfin Neto, o denominador de nossa razão dívida pública/PIB crescia foi possível elevar o valor absoluto do numerador (dívida) sem que houvesse um aumento explosivo dessa razão. O primeiro ciclo explosivo da dívida se deu pela superposição do segundo "choque" do preço de petróleo (1979) e do "choque" de juros de 1982.
A política governamental de geração de saldos na balança de bens de serviços, por meio da desvalorização da moeda nacional colocou em grandes dificuldades quem havia assumido dívidas em moeda estrangeiras Esse processo gerou uma espécie de socialização da dívida onde, por um lado, as empresas estatais capitalizaram suas dívidas ou receberam aportes do Governo, enquanto as empresas particulares obtiveram ajuda governamental de forma a amenizar a correção cambial, tendo com isto o governo assumido, também, parte de sua dívida. Além disso, a concessão de subsídios à exportação agravava o déficit governamental que resultou em crescimento da dívida até atingir um patamar de 30% do PIB por volta de 1986.
Deve-se assinalar que a rígida política cambial não oferecia muitas alternativas ao capital financeiro local e o Governo conseguiu, entre 1980 e 1985 pagar juros reais acumulados praticamente nulos. Nesse período do Governo Figueiredo, que poderíamos chamar de segundo Delfinato, os títulos federais e as cadernetas de poupança eram quase a única maneira de proteção contra a inflação. Isso explica a prática de juros reais negativos até 1984.
A partir de 1986, para alcançar o mesmo resultado (juros acumulados zero) foi necessário alternar juros reais positivos com planos de estabilização (Cruzado, Bresser, Verão, Collor 1 e 2) que embutiam confiscos do último mês de inflação. Como parte da dívida não recebia correção foi gerado um passivo não contabilizado cujo efeito retardado (correção do FGTS) se faz agora sentir. Naquelas circunstâncias o limite de 30% do PIB passou a constituir no número mágico a partir do qual era necessário disparar um plano e seu respectivo confisco.
A partir de 1991 (gestão Marcílio Marques Moreira), os juros reais passaram a ser significativos e sistematicamente positivos, por ocasião do plano Real, já atingiam o acumulado de 140%. O regime de câmbio livre, propiciado com a retenção de ativos no início do Governo Collor, havia propiciado a entrada de capital externo que exigiam uma remuneração atrativa. Foi possível, a partir de 1991, acumular um estoque de reservas que passou a ser abatido da dívida externa líquida.
Após um período de crescimento que se deu até 1988, a relação dívida interna/PIB vinha decrescendo tendo alcançado 14% do PIB em 1994. No entanto, neste mesmo ano, 1994, com o Plano Real a dívida passa a crescer num ritmo acelerado, passando a representar 51,6% do Produto Interno Bruto em abril de 1999. A recuperação parcial do Real em relação ao dólar fez com que a dívida caísse em relação ao PIB em 1999.
No último ano, 2000, entretanto a dívida interna/PIB aumentou atingindo em outubro/2000 o pico de 55,5%. Este cenário foi em parte resultante da queda das reservas internacionais que atingiu seu menor nível desde a implementação do plano real (4,2% do PIB).
Chegamos , hoje, a 1 trilhão de reais de dívida interna.